Os brasileiros desesperados para voltar para casa... na Austrália

Francis Michel e Gislaine Ribeiro

Francis Michel e Gislaine Ribeiro: plano de saúde e consultas marcadas parar ter o filho em Canberra, mas não sabem se conseguirão voltar. Source: Francis Michel e Gislaine Ribeiro -- Arquivo pessoal

Eles viajavam quando o confinamento foi decretado. E agora não conseguem voltar à Austrália, país onde deixaram casa, estudos, emprego, pertences e parceiros.


Quase 3 mil brasileiros portadores do visto de estudante estão fora da Austrália desde o confinamento, segundo dados do Departamento de Educação australiano.

São 2959 pessoas, ou 13% do total de brasileiros que investiram grande parte de suas economias para aprimorar os estudos no país. 

O ministro do Comércio da Austrália, Simon Birmingham, declarou que o país não deverá reabrir sua fronteira para viajantes do exterior até algum momento de 2021, mas o governo está muito interessado em relaxar as restrições de entrada para os estudantes. Mas nada disso está confirmado.
Há planos de universidades de Camberra/ACT e do estado da Austrália do Sul/SA de trazer estudantes estrangeiros em número limitado em um plano-piloto a partir de julho, para depois ver se o país pode abrir as portas para todos os estudantes estrangeiros.
Quem passa pelo problema vive numa espécie de limbo difícil de encarar.

Casa, estudo, trabalhos, tudo ficou em suspenso na Austrália, enquanto contas seguem vencendo. E não se sabe quando, ou se, a vida do outro lado do mundo será retomada.

São obrigados a permanecer no Brasil, que se tornou o epicentro mundial da crise sanitária do coronavírus. 
Fonte: Departamento de educação da Austrália
Source: Fonte: Departamento de educação da Austrália
É o que acontece com o casal Francis Michel e Gislaine Ribeiro, ambos de 29 anos. Eles estão há quase 4 anos morando em Canberra com visto de estudante, com casa, emprego e vida estabelecida.

Gislaine está grávida de cinco meses e já tinha tudo pago para ter o filho em Canberra.

Estão no Brasil querendo voltar, mas não podem.
Gislaine e Francis
Gislaine Ribeiro e Francis Michel não sabem mais se conseguirão voltar aos empregos em Canberra. Source: Gislaine e Francis (supplied)
“Eu estou grávida, vim pra cá com seis semanas de gravidez para passar 40 dias, com todos os meus exames já marcados para quando voltasse. A dois dias de a Austrália fechar, a gente ficou sem saber se conseguiria. Daí a fronteira fechou e não conseguimos voltar. E ficamos completamente sem saber o que fazer, totalmente perdido. Eu grávida, não tenho plano de saúde no Brasil, e com todo esse problema, não conseguia marcar exames que precisava fazer na época, tudo fechado, sem aceitar novos pacientes.”

Gislaine e Francis dividiam a casa com mais um amigo e outro casal. Eles conseguiram negociar o pagamento do aluguel para quando voltarem, o que será um problema na volta. 

“O proprietário congelou as parcelas, mas quando a gente voltar vai ter que colocar essas parcelas em dia, e todas as semanas que estamos aqui extra”, conta Gislaine.
Francis trabalha com a instalação de janelas em Camberra e tem medo de não ter mais seu emprego quando conseguir voltar. 

“Estou há três anos na empresa. Falei com meu chefe, ele disse que está com muito serviço, mas por enquanto ele está conseguindo suprir. Mas não sei até quando ele vai ficar me esperando.”

Francis Michel e Gislaine Ribeiro fazem parte de um grupo de WhatsApp com quase 200 outros brasileiros que passam pela mesma situação.  

Andressa Freire, de 32 anos, é uma delas.

Vivendo em Sydney há quatro anos, tem casa alugada em seu nome trabalha para uma rede de hotéis.

Voou para São Paulo em 16 de março para resolver questões pessoais.

A ideia era ficar seis dias, mas não conseguiu voltar até agora. 
Andressa Freire
Andressa Freire, que esta no Brasil, e o namorado Matheus, que permanece na Austrália: mais de 100 dias afastados. Source: Andressa Freire (arquivo pessoal)
“Estou no visto de estudante (500) e ele vai vencer em agosto/2021. Eu abri uma assessoria de marketing digital em parceria com uma outra pessoa e o curso que estou fazendo na Austrália é de extrema importância para o futuro do meu negócio. (...) Além de deixar toda a minha vida pausada (escola e trabalho) na Austrália, também tenho um parceiro que está aí. E as minhas contas continuam chegando normalmente independente de me deixarem voltar para casa.”
Coronavirus
Estudante brasileira Andressa não consegue voltar à Austrália Source: Supplied
Victor Tadeu Leal, de 24 anos, é outro brasileiro que vive o limbo da volta para a Austrália.

Vivendo há um ano no país, decidiu, como muitos fazem, usar as férias escolares de março para conhecer a Tailândia. 

“Durante minha viagem, as fronteiras da Austrália foram fechadas e não consegui retornar, ficando preso na Tailândia. O governo o anunciou oficialmente apenas um dia antes do fechamento e por isso não consegui encontrar voos a tempo. Tentei uma exceção e autorização através do formulário de solicitação de viagem para voar no dia seguinte, mas não obtive retorno positivo. Com isso, fiquei preso na Tailândia e tive que vir ao Brasil com apenas uma mochila de 7 kg, infelizmente era minha única opção.”
Coronavirus
Estudante Victor Leal, em Sydney Source: Supplied
“Eu tenho uma vida na Austrália, deixei namorada, amigos, possuo contas a pagar mensamente (pagamento de aluguel, telefone celular, planos, escola e etc), todos os meus pertences estão no meu apartamento alugado em Sydney (tenho todas as minhas roupas, sapatos, meu computador, meus gadgets, documentos importantes, entre outras coisas). Tenho meus estudos para terminar, que paguei por eles”, conta Victor.

Todos os entrevistados reclamam da falta de apoio e contato do governo australiano. E vivem um momento pessoal muito difícil. 

Gislaine Ribeiro, que está grávida e sente a pressão em dose dupla, resume a situação.

“É muito complicado, a gente fica mais frágil, pensa no outro ser que está vindo e quer dar o melhor. É bem difícil. A gente tenta pensar em outras coisas para não enlouquecer. É bem ruim ir dormir e acordar sem saber o que vai ser, o que pode fazer, dormir e acordar com medo de cumprimentar alguém, ou de sair de casa. Eu me sentiria mais segura voltando, porque é nossa casa, nossa vida está aí, são quatro anos.”
As pessoas na Austrália devem ficar pelo menos a um metro e meio de distância dos outros. Confira os limites no seu estado ou território para o número máximo de pessoas em encontros e reuniões.


Os testes para o coronavírus estão agora amplamente disponíveis em toda a Austrália. Se você  tem sintomas de resfriado ou de gripe, organize um teste ligando para o seu médico ou para a Linha Direta Nacional do Coronavírus no número 1800 020 080.


O App COVIDSafe do governo federal, para rastrear o coronavírus, está disponível para baixar na 'app store' do seu telefone.

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