Grávida na Austrália em meio à pandemia: "Senti muito medo, desespero"

Pregnant women

Brasileiras, imigrantes, mães de primeira viagem na Austrália: Lucy Lima e Carol Cressoni Source: Supplied

Medidas de lockdown, regras de distanciamento social, fechamento de fronteira, quarentena; é nesse cenário inimaginável que muitas mulheres grávidas se encontram. Conversamos com duas mães de primeira viagem, brasileiras, que compartilharam conosco os medos e as alegrias de dar à luz na Austrália em meio a uma pandemia.


Para muitas pessoas, engravidar é um dos momentos mais emocionantes na vida de uma mulher.   

O anúncio é dividido com a família e amigos próximos, são organizados chás de bebê, de revelação, familiares se reúnem para vir à Austrália e acompanhar o momento importante na vida da gestante.    

Mas a jornada da nova mãe, que já é desafiadora, ganhou uma nova dimensão por vezes angustiante em meio à pandemia do coronavírus.
Carol Cressoni, pregnant woman
Carol: "Todo mundo ficou feliz quando anunciei a gravidez, fiquei triste de não fazer o chá de bebê, é dolosoro para a gente que está aqui longe da família" Source: Supplied

Lucy Lima Silva, 32 anos, de São Paulo, vive em Melbourne há 6 anos, e está grávida de quase nove meses de uma menina. A data de nascimento está prevista para o dia 16 de junho. Para ela a  experiência de sua primeira gravidez em meio à pandemia tem sido ‘complicada’.

“Quando vou ao médico tenho que ir sozinha, não podemos subir eu e meu marido, têm informacões que ele precisa saber e eu passo depois para ele. Os hospitais aqui deixam a desejar. Ninguém explica nada, eu acredito que só meu marido poderá me acompanhar no parto e à noite ele não poderá ficar, ficarei sozinha a partir das 9 da noite,” diz Lucy.

Comum entre as grávidas imigrantes são os problemas de comunicação com o obstetra, enfermeiras, staff do hospital. “É uma experiência nova, palavras novas, tenho que pesquisar o que falar para o médico, apesar dos seis anos na Austrália, gravidez é tudo novo, têm horas que eu não sei, aí vai na mímica mesmo.”
Lucy Lima, pregnant woman
Lucy Lima sobre as consultas com o médico: "Têm muitas palavras novas, têm horas que eu não sei, aí vai na mímica mesmo.” Source: Supplied
“Quando descobri que estava grávida, senti toda aquela emoção, minha mãe vai vir, meu pai vai vir, aí veio a pandemia, fechamento das fronteiras, senti muito medo, foi desesperador, tive que parar de trabalhar mais cedo com medo de contrair o vírus e agora como vai ser?”

Apesar do medo inicial, Lucy diz que em nenhum momento pensou em voltar ao Brasil e que após o impacto emocional passou a aceitar o ‘novo normal’. “Vou ter orgulho de tudo que eu consegui passar sozinha, e vou dizer para ela, minha filha sua mãe foi uma vitoriosa, conseguimos passar por essa juntos, eu e você e seu pai. Ela vai chegar uma guerreira,” completa.

“Foi a escolha que eu fiz“

Carol Cressoni, 28 anos, natural de Santo André,  São Paulo, está grávida de quase sete meses de um menino e está de quarentena pois acaba de se mudar de Melbourne (Victoria) para Adelaide (South Australia) e pelas leis australianas tem que ficar de quarentena após fazer uma viagem interestadual.
Carol Cressoni, pregnant woman
Carol celebra a chegada do primeiro filho: "Essa situação nos deu mais força para continuar seguindo em frente." Source: Supplied

“Estou trabalhando de casa, meu marido teve que sair do emprego, nesse momento temos que tomar conta da nossa saúde antes de tudo.”

Para ela, todos os desafios que teria ao engravidar por estar longe da família foram dobrados pela pandemia. 

“Minha mãe e sogra iriam vir para o nascimento ficar com a gente, sou mãe de primeira viagem. Sou muito ligada à minha família. Todo mundo ficou feliz quando anunciei a gravidez, fiquei triste de não fazer o chá de bebê, fora o momento do nascimento, é dolosoro para a gente que está aqui longe. Mas essa foi uma escolha que eu fiz.

Segundo ela o sistema de saúde australiano é mais difícil de navegar. “Pelo meu plano de saúde aqui a gente não lida só com a obstetra, tudo é tratado com as parteiras, as consultas parece que serão por telefone.”

Mas ela conta que todas as dificuldades, medos e desafios tiveram o efeito oposto no casal.

“Ficamos muito apreensivos com tudo, mas no fim estamos esperançosos, vai dar tudo certo, foi uma escolha que eu fiz. Essa situação nos deu mais força para continuar em frente. Espero que com esse vírus o mundo tenha mais compaixão, e as pessoas mais empatia umas pelas outras, meu filho, quero que ele faça parte dessa mudança, contribua para esse mundo que a gente quer que melhore.”

“Estamos tentando ficar na Austrália, isso [o coronavírus] foi mais impulso, mais um fator para tentar ficar ainda mais aqui, acho que aqui é melhor para criar meu filho.”
Photo of pregnant mother
"Durante a gravidez, não há motivo para que seu atendimento normal não continue, no entanto, algumas visitas podem ser feitas remotamente por telessaúde," diz o doutor Vijay Roach, presidente do Colégio de Obstetrícia da Austrália e Nova Zelândia. Source: Pixbay
“Estamos preparados”

Uma das maiores autoridades da saúde na Austrália, que conduziu a resposta do país à pandemia do coronavírus, o doutor Brendan Murphy disse que a gripe comum é um risco maior para mulheres grávidas do que o COVID-19.

“Quem está grávida, por uma questão de princípio, obviamente deve prestar muita atenção à sua saúde e tentar  evitar o contato com alguém que tenha alguma infecção. A gripe é provavelmente mais perigosa para uma mulher grávida do que o coronavírus.”

A doutora Márcia Bonazzi, obstetra brasileira em Melbourne, explica que muita coisa mudou nos hospitais que atende e no seu consultório, mas elogiu a ação rápida tomada pelas autoridades australianas.

“Sabemos exatamente o que fazer, fomos todos treinados para lidar com isso logo nas primeiras semanas, estamos preparados,”disse à SBS em Português. Ela esclarece que na Austrália a grávida pode ficar com uma pessoa na hora do parto - ao contrário dos Estados Unidos.

“A mãe não está sozinha, pode ficar com o marido ou parente durante o parto,” explica.
O doutor Vijay Roach, presidente do Colégio de Obstetrícia da Austrália e Nova Zelândia, disse que as mulheres grávidas não devem ser consideradas um grupo vulnerável ou em risco. Ele destacou que algumas visitas ao hospital e consultas talvez sejam feitas por telessaúde.

"Durante a gravidez, não há motivo para que seu atendimento normal não continue, no entanto, algumas visitas podem precisar ser realizadas por telessaúde. Você também deve se certificar de ter vacinação contra gripe durante a gravidez. Precisamos lembrar que as mulheres grávidas correm maior risco de desenvolver ansiedade ou depressão, isso também pode se aplicar ao seu parceiro... cuidem de si mesmos,” disse.


Os testes para o coronavírus estão agora amplamente disponíveis em toda a Austrália.

Se você  tem sintomas de resfriado ou de gripe, organize um teste ligando para o seu médico ou para a Linha Direta Nacional do Coronavírus no número 1800 020 080.

O App COVIDSafe do governo federal, para rastrear o coronavírus, está disponível para baixar na 'app store' do seu telefone.

A SBS traz as últimas informações sobre o COVID-19 para as diversas comunidades na Austrália.

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