O Brexit fica em pleno na virada do ano, mas o Scotexit pode vir a ser o novo desafio

A view of the Brexit-inspired mural by artist Banksy in Dover, Kent. The UK and EU have reached a post-Brexit trade agreement.

A view of the Brexit-inspired mural by artist Banksy in Dover, Kent. The UK and EU have reached a post-Brexit trade agreement. Source: AAP

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O divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia foi mais inglês que britânico. E o problema acrescido para a maioria de Boris Johnson: agora já não dá para culpar a burocracia de Bruxelas pelos males


O acordo na manhã do dia da consoada permite que o divórcio no dia de fim de ano, seja, apesar de divórcio, amigável.

A variante inglesa da COVID, ao bloquear (por motivo sanitário) milhares de camiões nas fronteiras da Mancha, e ao deixar desguarnecidas as prateleiras de muitos supermercados britânicos, certamente deu um empurrão para, na última hora, para afrouxar a mais soberanista versão inglesa do Brexit.

Ursula van der Leyen, líder muito firme e muito política da Comissão Europeia, no discurso de anúncio da solução arranjada, foi buscar um verso do álbum Let it Be dos Beatles, há 50 anos: "The long and winding road", e assim relatou a "longa e sinuosa a estrada" para o acordo.

Para qualificar o resultado, ecorreu a Shakespeare no Romeu e Julieta: “A despedida é uma doce tristeza”, mas também se inspirou no universo fecundo do poeta T.S. Eliott para uma conclusão, esta: “Aquilo a que chamamos o começo é muitas vezes o fim, e um fim é um começo”.

É uma ideia que até parece resposta subtil à ideia chave do discurso do (reconheça-se) sempre bem humorado (mas sinuoso) Boris Johnson.

Rematou o primeiro ministro britânico:

"Retomámos o controlo das nossas leis e do nosso destino". Terá faltado a Boris precisar de que destino estava a falar: o britânico ou o inglês?

Há muito quem confunda essas duas realidades, no entanto bem distintas.

O Brexit é um divórcio provocado pelo nacionalismo inglês que não tem para o caso prolongamento em algum nacionalismo britânico.

Aliás, e aqui até pode regressar a frase de Eliot em Úrsula, com uma interpretação: o fim do Reino Unido na União Europeia.

Tem anunciada alguma desunião no Reino Unido, a começar pla Escócia – onde há muito quem prefira trocar o Reino Unido pla União Europeia.

É esse o caso da primeira-ministra Nicola Sturgeon, que está à espera da consolidação nacionalista escocesa nas eleições de maio para convocar novo referendo pela independência.

Há 6 anos, num primeiro referendo, a independencia foi rejeitada por 55% dos escoceses. Neste momento, as sondagens invertem a proporção.

Assim sendo, fechado o Brexit, até pode estar a começar o Scotexit. Com um problema acrescido para a maioria de Boris Johnson: agora já não dá para culpar a burocracia de Bruxelas pelos males do Reino Unido.

Está para se ver como é que Boris Johnson vai demonstrar aos concidadãos que a obstinação no divórcio é mesmo acertada e vantajosa. É de antecipar que a primeira zanga venha dos jovens universitários, confrontados com o fim da livre mobilidade Erasmus que não fica totalmente substituída por um compromisso com o nome do matemático Alan Turing. Talvez em busca de inspiração para decifrar os enigmas pela frente.

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