Portugueses indignados com a matança maciça de animais selvagens na Herdade da Torre Bela

Wild boar

Wild boar Source: Pixabay

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Cerca de 540 veados, gamos e javalis foram abatidos na mais extensa propriedade propriedade privada do país; os proprietários pretendiam eliminar a fauna para instalar duas centrais fotovoltaicas no terreno


Algum participante deslumbrado com a chocante enorme matança acabada de consumar publicou nas redes sociais, a vangloriar-se da matança, uma fotografia do campo com os 540 veados, gamos e javalis alinhados, estendidos, depois de abatidos. Essa imagem postada como troféu de caça desatou a indignação generalizada em Portugal, com o ministro do Ambiente a expressar a revolta do país ao qualificar aquela matança de animais como “um vil ato de ódio” que coloca os autores sob o veredito da justiça criminal.

O ministro fez questão de clarificar: uma coisa é a caça, que é praticada como forma de gestão de recursos cinegéticos, que contribui para a manutenção da biodiversidade e dos ecossistemas; outra, uma matança maciça de animais, como a que foi praticada, que, face ao número de animais abatidos, 540, configura crime contra a natureza e a preservação da fauna, por isso sob alçada da justiça.
O que aconteceu, explica um oficial de Justiça “Não foi caçar, foi massacrar aqueles animais que não tinham para onde fugir, porque foram encurralados numa pequena porção do amplo terreno, colocados à mercê do disparo fácil dos caçadores”.

Tudo aconteceu no fim de semana antes do Natal na Herdade da Torre Bela, a mais extensa propriedade privada em Portugal, situada a 70 quilómetros de Lisboa, uma coutada com a extensão murada de 1200 campos de futebol. Os vizinhos contam que de manhã à noite ouviam disparos incessantes. Um deles resume tudo numa frase com sete palavras: “era um tiro a cada dez segundos”.

Embora esta seja a maior quinta murada da Europa, os animais foram impedidos de fugir ou de se refugiarem (na vegetação que tem sido cortada), e foram abatidos depois de encurralados. 

A investigação sobre o que ocorreu revela que os donos da herdade organizaram uma caçada, com a participação de 16 caçadores, quase todos da vizinha Espanha. Cada um pagou um valor entre os 7 mil e os 8 mil euros para participar.

Em apoio aos 16 caçadores, os organizadores contrataram seis matilheiros, cada um com cerca de 30 cães.

Os matilheiros têm como função auxiliar os caçadores nas montarias. Largam as matilhas em sítios específicos e depois os cães perseguem os animais a abater, levando-os na direção dos caçadores.

Também se sabe que a caçada foi organizada com a intenção de extinguir toda aquela fauna, sem poupar qualquer veado ou javali, embora alguns fossem muito jovens. Há que comente: “muitos eram bebés”.

Sabe-se que os proprietários pretendiam eliminar a fauna porque tinham a intenção de instalar naquele vasto terreno duas centrais fotovoltaicas. Já tinham ativado o licenciamento de 868,32 hectares daquele terreno para essa instalação.

Para ser concedida licença, é preciso que não haja fauna pesada no terreno que tem de estar vedado. No projeto, com a intenção de obterem a aprovação, os proprietários, reconhecendo a existência de grande número de veados, gamos e javalis, anunciavam que os animais seriam “metodicamente transferidos” para outro terreno de outra propriedade. Afinal, foram todos abatidos.

Tudo está agora a ser investigado pela justiça a quem incumbe apurar responsabilidades pelo que aconteceu. O ministro do Ambiente já fez suspender, até conclusão do processo judicial, o estudo de licenciamento da central fotovoltaica e vários deputados já estão a preparar alterações à Lei da Caça, com o intuito de criminalização mais pesada de matanças como a verificada na Herdade da Torre Bela.

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