Democracia no mundo, em recessão há já 16 anos

A Austrália ao lado da Ucrânia na luta pela democracia

A Austrália ao lado da Ucrânia na luta pela democracia Source: Tetiana Koldunenko.

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O último relatório anual da Freedom House alerta-nos: estamos no 16º ano consecutivo de recessão democrática. O número de países que se afastam da democracia supera cada vez mais o daqueles que se aproximam.


Recuemos 30 anos. Logo a seguir à queda do muro. E ao final da guerra fria, em 1989. O fascínio da liberdade e da democracia crescia em todo o leste da Europa e também se tornou ambição em outras das regiões do mundo. Foi, por exemplo, o tempo em que na América Latina a democracia levou a melhor sobre as oligarquias e ditaduras, quase todas tinham tido regimes militares: a Argentina, o Brasil, o Chile, o Uruguai – tantos outros também na América Central e nas Caraíbas.

Agora, passadas apenas 3 décadas, o relatório anual da Freedom House – que, conforme o nome indica, dedica-se ao estudo do estado da liberdade e da democracia - alerta-nos: estamos no 16º ano consecutivo de recessão democrática. O número de países que se afastam da democracia supera cada vez mais o daqueles que se aproximam.

A Freedom House identifica que 60 países tiveram nestes últimos anos súbita degradação democrática no começo deste século. Estima a Freedom House que metade da população mundial vivia em países democráticos, respeitadores dos direitos civis e, agora, apenas 20% vivem em cidadania de país inquestionavelmente livre. Só no ano passado houve no mundo 7 golpes de estado militares – o número mais alto deste século logo a seguir à guerra fria.

Até os ditadores (ainda que em modo não sincero) faziam que se curvavam perante os altares da democracia. Alguns vieram a cair na década seguinte, no que foi chamado de Primavera Árabe – embora outros tenham entrado logo a seguir, depois da vaga democrática dos anos 90.

As duas décadas deste século trouxeram a queda do fascínio pela democracia e, nalguns casos, cresceu a riqueza material – caso da China ou de alguns regimes árabes, como o Saudita – mas o gosto da vida em democracia ficou para trás, nos anos 90.

Logo a seguir ao colapso do bloco soviético, vários dos países antes ocupados e aterrorizados pela ditadura do Kremlin quiseram aderir à Aliança Atlântica - precisamente com intenção de se protegerem do urso político de Moscovo. É assim que os bálticos, a Polónia, a Hungria, a então Checoslováquia, a Bulgária e a Roménia aderiram à NATO, ou OTAN, e passaram a ter garantia de proteção coletiva (a prática mostra que a pertença NATO por si só não é um certificado de garantia democrática). Mas é uma proteção contra aqueles para quem a estupidez, a crispação, o ressentimento não tem limites, e por isso mesmo são ameaça colossal.

Há muito na Rússia quem saiba disso. E há quem não tenha medo. É o caso do jornal russo Novaya Gazetta, dirigido pelo jornalista Nobel da Paz, Dimitri Muratov, que decidiu que a próxima edição do jornal será bilíngue - edição em russo e em ucraniano. Uma afirmação 3 dias depois de Putin, na estratégia de mentira permanente, ter dito que a Ucrânia não existe.




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