'Sou brasileira, imigrante na Austrália, fiz aborto e não me arrependo'

Demonstrators hold placards and signs as they march on Elizabeth Street during a rally in support of abortion rights in Melbourne, Saturday, July 2, 2022.

Manifestantes seguram cartazes enquanto marcham na Elizabeth Street durante uma manifestação em apoio ao direito ao aborto em Melbourne Source: AAP Image/Diego Fedele

A partir de hoje, 7 de julho, as mulheres na Austrália do Sul, não vão mais precisar apresentar uma justificativa para terem acesso ao aborto. A Austrália do Sul é o último estado a oferecer o procedimento, que já é oferecido e legalizado em toda a Austrália. Conversamos com quatro mulheres imigrantes que fizeram abortos na Austrália, Brasil e Holanda. Aqui elas descrevem como foi o procedimento, a ida até a clínica, as razões por trás da decisão e porquê não se arrependem.


As brasileiras Marcela Falcão, Carol, Natani e a holandesa Eva Jacobs, falam sobre a jornada emocional, pessoal e financeira de enfrentar o aborto sozinha.

Os relatos das quatro mulheres imigrantes, tão distintos, são incrivelmente semelhantes; a decisão solitária, a indiferença dos namorados, a questão do visto na Austrália, o segredo de não expor o fato à família e a total ausência de arrependimento.

Exceto por Natani, que mora na Austrália mas abortou no Brasil - e aqui comparamos o procedimento nos dois países - todas falam das pressões sociais que sofreram na época, e de fazer tudo no estrangeiro, no caso, a Austrália, onde o aborto é legalizado, mas que pode sair caro, entre AU$500 e AU$800, dependendo do estado onde você morar.

Clique no botão play na imagem que abre essa reportagem para ouvir o podcast.
An anti-abortion supporter sits behind a sign
Um defensor antiaborto senta-se atrás de uma placa que informa que a clínica da Jackson Women's Health Organization está aberta no estado do Mississippi. A clínica fechou após a Suprema Corte revogar Roe vs Wade Source: AP
A criminalização do aborto nos Estados Unidos 

A discussão voltou à tona após a Suprema Corte dos Estados Unidos revogar a histórica decisão Roe vs Wade de 1973 que reconhecia o direito ao aborto como constitucional e tornava legal o procedimento em todo o país.

Na Austrália, manifestantes foram às ruas em solidariedade às americanas que, em pelo menos 20 estados americanos, agora serão forçadas a levar sua gravidez até o fim.

A decisão foi condenada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização das Nações Unidas (ONU), que afirmaram que o direito ao aborto é um direito à saúde e que a proibição não vai fazer com que as mulheres párem de abortar, mas apenas colocar vidas em risco.

A ONU mostra que estatisticamente, em países onde o aborto é proibido, os índices de interrupção da gestação são semelhantes aos de países onde o procedimento é legalizado, ou seja, não importa onde estiverem, se quiserem, as mulheres vão abortar do mesmo jeito.

A diferença é que mulheres em situação vulnerável e de baixa renda correm risco pois geralmente abortam em clínicas clandestinas, sem acompanhamento médico ou psicológico adequados.

Pesquisa: mulheres não se arrenpendem de terem abortado

Pesquisadores do centro Advancing New Standards in Reproductive Health (ANSIRH) da Universidade da Califórnia, em San Francisco, publicaram o terceiro e último artigo baseado em seu inovador estudo , que acompanhou as experiências de 1.000 mulheres que fizeram um aborto ou tiveram seu aborto negado. As mulheres foram acompanhdas por um período de cinco anos. 

Os pesquisadores descobriram que as mulheres e suas famílias sofreram danos a longo prazo quando lhes foi negado abortos desejados, incluindo problemas no progresso do desenvolvimento das crianças existentes e na renda das mulheres.

Eles também concluíram que alguns dos argumentos mais populares para restringir o aborto – sugerindo que as mulheres vão se arrepender de seus abortos, ou que o procedimento pode ser ruim para a saúde mental das mulheres – simplesmente não se alinham com os dados.

Apesar da retórica popular frequente argumentando o contrário, o estudo longitudinal descobriu que as mulheres que fizeram abortos disseram que se sentiam principalmente aliviadas e continuaram sentindo que sua decisão estava certa nos cinco anos que se seguiram. .

“Não encontramos evidências de emoções negativas emergentes ou arrependimento da decisão do aborto; tanto as emoções positivas quanto as negativas diminuíram nos primeiros dois anos e se estabilizaram depois, e a decisão certa permaneceu alta e constante”, explicaram os pesquisadores em um artigo para a .
Abortion in Australia
O aborto e as imigrantes: circunstâncias de vida, inclusive visto, formam algumas das razões para as mulheres optaram pelo procedimento na Austrália Source: LightRocket via Getty
O aborto na Austrália estado a estado 

  • No Território da Capital, Camberra, o aborto é legal até 16 semanas de gestação e deve ser realizado por médico ou enfermeiro. 
  • Em Nova Gales do Sul, os abortos podem ser realizados em até 22 semanas. Depois disso, dois médicos devem aprovar o procedimento.
  • No Território do Norte, um médico pode aprovar e realizar um aborto em até 24 semanas. Após 24 semanas, dois médicos precisam aprovar um aborto.
  • Em Queensland, os abortos podem ser realizados em até 22 semanas. Após 22 semanas, dois médicos devem aprovar o procedimento.
  • Na Austrália do Sul, a partir de 7 de julho, os abortos são permitidos até 22 semanas e seis dias, depois disso, dois médicos devem concordar que o procedimento é necessário.
  • Na Tasmânia, os abortos podem ser realizados em até 16 semanas. Após 16 semanas, dois médicos devem aprovar o procedimento.
  • Em Victoria, os abortos podem ser realizados em até 24 semanas. Após 24 semanas, dois médicos devem aprovar o procedimento.
  • Na Austrália Ocidental, os abortos podem ser realizados em até 20 semanas com a aprovação de dois médicos. Após 20 semanas o procedimento deve ser aprovado por um painel de seis médicos.
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