Nova biografia monumental de Fernando Pessoa, o poeta do desassossego

Fernando Pessoa

A vida de Fernando Pessoa é povoada por muitos heterónimos uns 70, para além dos mais célebres: Caeiro, Álvaro de Campos, Bernardo Soares Source: Public Domain

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Fernando Pessoa: que pessoa é Pessoa? Temos à espera – um livro – que junta em mil páginas o que fica de 30 anos de investigação. Por mais lido que seja o poeta do desassossego – a leitura é reparadora.


Passa magia – ao mesmo tempo profundidade e leveza, por mais lido e estudado que esteja Fernando Pessoa é uma tarefa quase missão impossível

Preparar a biografia de alguém cuja vida essencial exterior não aparece marcada em factos acessíveis – é banal, discreta, monótona.

A vida dele – de Fernando Pessoa - é sobretudo interior povoada por muitos heterónimos uns 70, para além dos mais célebres: Caeiro, Álvaro de Campos, Bernardo Soares.

Mesmo assim há quem se tenha dedicado à colossal tarefa de encontrar fio narrativo – para a biografia do génio enigmático, Fernando Pessoa. João Gaspar Simões ousou e publicou em 1950 – uma primeira biografia, vieram outras, a de Angel Crespo, a de Cavalcanti Filho, todas muito a partir de impressões e análises – mas escassez de factos reconhecidos como factos  comprovados por fontes sólidas.

Suprir esse défice de factos sobre a vida de pessoa é uma das ambiciosas tarefas a que se dedicou, com mais de 30 anos a investigar e acumular conhecimento,  Richard Zénith.

Zénith tem agora 65 anos.

Nasceu em Washington DC, a capital federal dos Estados Unidos – foi andarilho plo mundo

E por amor a Lisboa e por dedicação à obra de Fernando Pessoa – também para superar burocracias de cidadão estrangeiro em Portugal – tem a nacionalidade portuguesa e vive há 34 anos em Lisboa.

O que fez Richard Zenith passar a viajar pla obra de Pessoa é um facto fortuito: uma amiga americana na universidade da Virginia, onde ambos estudavam literatura, tinha um namorado português – que o puxou para o mundo de pessoa – primeiro com a Tabacaria, de Álvaro de Campos, também poemas assinados por Alberto Caeiro.

Zénith já tinha aprendido o castelhano que o ajudou para a leitura em português – aproximou-se ainda mais no Brasil, para onde viajou a seguir – depois uma bolsa da fundação Guggenheim foi o passaporte para (por afeto) viver em Lisboa e entranhar-se nos 27.335 papéis no mítico, imenso, caótico, baú de Pessoa….o baú cheio de pessoas – na definição inspirada de outro grande em pessoa, António tabucchi.

Zénith soube manter-se fora de intrigas das polémicas entre pessoanos… dedicou-se a decifrar a difícil caligrafia de pessoa,

Focou-se na tradução – juntando o máximo de fragmentos e reflexões  – do livro que Pessoa tinha deixado em folhas soltas por organizar a obra prima Livro do Desassossego.

A Assírio & Alvim – no tempo do criador, o editor Manuel Hermínio Monteiro quis cuidar o trabalho da investigação de Zénith – foram publicadas 10 edições do Livro do Desassossego – sucessivamente acrescentadas, melhoradas – o estudo aprofundou-se sempre mais, reconhecido com o prémio Pessoa em 2012.

E abre-se agora – no resultado de 30 anos a estudar Pessoa, a biografia de Fernando Pessoa.

Por agora, a edição em língua inglesa.

O new york times destacou, o que chama de biografia monumental. Não plo tamanho que também o é – 1035 páginas.

Mas pla qualidade do que nos traz.

Seja – como pessoa era indiferente à perenidade da obra.

Seja – o estudo sobre a sexualidade de pessoa – o poeta aparece-nos homosexualizado, com Zénith a concluir que quando morreu, por cirrose, aos 47 anos, continuava virgem, sempre fascinado plo oculto, plo paranormal, sempre a criar personas que dialogam umas com as outras….sempre a sonhar.

Tal como deixou escrito, na pessoa de Álvaro de Campos, na Tabacaria:

Não sou nada

Nunca serei nada

Não posso querer ser nada

À parte isso – tenho todos os sonhos do mundo

A monumental biografia PESSOA por Richard Zénith, já a podemos ler em língua inglesa – para o ano que vem está prometida, ple Quetzal – a tradução para português.

É de subscrever – trabalho e livro – monumental com todas as pessoas em pessoa.

Ainda Álvaro de Campos:

Que sei eu do que serei

Eu que não sei o que sou. Ser o que sou?

Mas penso ser – tanta – coisa.

…eu que não tenho nenhuma certeza





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