Na Austrália, mulheres ganham em média cerca de A$25 mil a menos por ano do que os homens

Wage Inequality

Rights advocates in Australia say much work remains to be done to achieve gender equity. Source: Getty

No Dia Internacional da Mulher, os dados relacionados à diferença salarial e oportunidades entre homens e mulheres na Austrália são desanimadores. Um dos maiores fundos de previdência do país pede às empresas que desenvolvam e publiquem políticas de equidade salarial de gênero, depois que pesquisas mostraram que muitos locais de trabalho não têm essas políticas em vigor.


A primeira mulher a ser presidente da Super Aware, um dos maiores fundos de previdência da Austrália, Deanne Stewart, diz estar consciente da necessidade de lidar com a diferença salarial de gênero no país.
 
Ela diz que o fundo administra A$ 125 bilhões em nome de 1,1 milhão de membros, principalmente no setor público - dos quais dois terços são do sexo feminino.
 
"Isso é tão importante porque, em última análise, a diferença salarial entre os sexos tem um impacto significativo na segurança financeira das mulheres. E isso não é só imediato, tem um impacto negativo para o futuro delas. Não há apenas a diferença salarial entre os gêneros, ela se traduz em uma lacuna na previdência, o que significa que uma grande diferença quando as mulheres procuram se aposentar, já que elas se aposentam com até 50% menos do que seus colegas homens."
 
Houve apenas uma pequena melhora na diferença salarial nacional entre os gêneros nas últimas quatro décadas. A Agência de Igualdade de Gênero no Local de Trabalho analisou que a diferença de 22,8% significa que as mulheres normalmente ganham cerca de A$ 25.000 por ano a menos que os homens.
 
 
Austrália na 70ª posição no mundo na participação econômica das mulheres
 
Nos últimos sete anos, a Austrália caiu da 14ª para a 70ª posição na participação econômica das mulheres, no índice global de diferença de gênero do Fórum Econômico Mundial, apesar de ter ficado em primeiro lugar na educação das mulheres.
 
Os resultados de uma pesquisa recente encomendada pela Super Aware oferece uma melhor compreensão do motivo disso.
 
Pouco mais de 1.500 pessoas foram ouvidas em janeiro e fevereiro para estabelecer como as empresas estão implementando políticas de equidade salarial de gênero.
 
Um terço dos entrevistados disse que a empresa na qual trabalham não tem uma política de equidade salarial de gênero; e outros 44% não tinham ideia se seu empregador tinha tal política.
 
Deanne Stewart diz que esses números são desconcertantes: "Acho que isso começa com transparência. Empregadores publicando suas políticas salariais de gênero, suas lacunas salariais de gênero. Mas também publicando em a porcentagem de mulheres que eles têm no nível executivo da empresa. Porque eu acho que a transparência tem que começar lá. Então, a partir daí, quais são suas políticas e como eles procuram realmente cobrir essa lacuna? O que se quer, afinal de contas, é que os empregadores cubram essa lacuna, para que ela não exista."
 
Consequências da desigualdade salarial de gênero
 
Wil Stracke, Secretária-assistente do Victoria Trades Hall, falou sobre os efeitos de as mulheres ocuparem uma posição financeira mais baixa: "Sabemos pelo trabalho que temos feito aqui no Vic Trades Hall que 60% das mulheres trabalhadoras experimentaram algum tipo de violência de gênero no local de trabalho. Sabemos que uma em cada cinco mulheres deixam o trabalho porque não se sentem seguras. Sabemos que assédio sexual é uma epidemia. Sabemos que os sistemas e estruturas que existem no momento não estão funcionando para coibir isso. E sabemos que as empresas não estão levando essas coisas a sério. Há um longo caminho a percorrer antes que possamos dizer que qualquer uma dessas coisas estão resolvidas."
60% das mulheres trabalhadoras experimentaram algum tipo de violência de gênero no local de trabalho.

Todos os setores tem uma diferença salarial em favor dos homens. A Agência de Igualdade de Gênero no Local de Trabalho descobriu que as mulheres foram as mais atingidas durante a pandemia, pois cerca de 60% dos trabalhadores da linha de frente - como professores, enfermeiros, vendedores de lojas - são mulheres.
 
Wil Stracke diz que esses cargos tem que ser reavaliados e que as leis ao redor do país devem obrigar empregadores a ter políticas de quidade de gênero nos locais de trabalho, assim como a Lei de Igualdade de Gênero de Victoria de 2020.
 
"Há duas maneiras de conseguir mudanças. Há o incentivo e a punição. O incentivo é: se você fizer isso, você está fazendo a coisa certa - e além disso, se você está criando uma força de trabalho mais diversificada e um local de trabalho mais diversificado, sendo que todos os estudos mostram que a diversidade melhora os resultados para as organizações. Mas se você não está inclinado a pensar sobre essas coisas, também precisamos de uma punição. Precisamos ter mudanças legislativas que responsabilizam as organizações quanto aos princípios em torno da igualdade de gênero."
 
Menos oportunidades para mulheres refugiadas 
 
Para as mulheres afegãs recém-chegadas à Austrália, encontrar emprego é muito difícil. Foi a situação em que se encontrou Maryam Zahid aos 15 anos de idade quando fugiu da guerra no Afeganistão para a Austrália.
 
Essa experiência a levou a criar há quatro anos a organização Mulheres Afegãs em Movimento, em Sydney, para apoiar mulheres e famílias com histórico de guerra e trauma.
 
"A guerra deixa um grande buraco nos nossos corações e nas nossas memórias. E isso traumatiza. O trauma dura para sempre. E para mim, quando eu vim para a Austrália, a primeira coisa que percebi foi que pelo menos aqui eu não preciso depender de um tutor masculino para me proteger; e eu posso ser uma mulher e um ser humano. Mas também temos aqui nossos próprios desafios em uma sociedade contemporânea. Meu trabalho diário envolve lidar com vítimas de violência doméstica. E eu sei o quanto isso está acontecendo aqui também, de diferentes formas." 
 
Em dezembro, o grupo iniciou uma parceria com a SisterWorks, organização sem fins lucrativos em Victoria, que ajuda mulheres refugiadas e imigrantes a encontrar emprego. Maryam Zahid diz que foi comovente ver a resposta.
 
"Quantas mulheres afegãs são empreendedoras. Elas têm tantos tipos de abordagem multitarefa para sua visão e missão. Elas me dizem: Maryam eu quero fazer isso, e eu quero fazer aquilo.  Mas devido a uma sistemática existente não é dada uma oportunidade a essas mulheres de se inserir no mercado. Porque muitas vezes elas são colocadas como refugiadas e empurradas para os pagamentos do Centrelink. E não há muito sobre como lidar com suas necessidades de uma forma mais específica." 
Não é dada uma oportunidade a essas mulheres de se inserir no Mercado porque muitas vezes elas são colocadas como refugiadas e empurradas para os pagamentos do Centrelink.

Ela diz que muito mais precisa ser feito para aliviar a crise de refugiados no Afeganistão, mais de seis meses depois da tomada talibã de Cabul, onde os direitos das mulheres rapidamente regrediram.
 
 
Mais dificuldades para mulheres imigrantes na pandemia
 
Para Ness Gavanzo, que veio das Filipinas para a Austrália há uma década, em fevereiro de 2012, seu trabalho como presidente da Gabriela Australia passou a ter maior urgência durante a pandemia.
 
Desde 2018, ela vem fazendo campanha por uma mudança nas disposições de violência familiar nos termos do Regulamento de Imigração para incluir portadoras de vistos temporários, o que permitiria às sobreviventes a transição para um visto permanente sem precisar de patrocínio de visto de um parceiro abusivo.
 
Durante a pandemia, a falta de apoio fez com que mulheres imigrantes que sobreviveram à violência doméstica fossem deportadas ou forçadas a viver com seu parceiro abusivo para ter um visto válido.
 
"Então, mesmo durante a pandemia, recebemos muitas ligações de mulheres que não sabiam o que fazer. Algumas delas tendo que voltar para seus parceiros abusivos porque não havia nenhum auxílio que elas pudessem acessar."
Durante a pandemia, recebemos ligações de mulheres (em vistos temporários) que tiveram que voltar para seus parceiros abusivos porque não havia nenhum auxílio que elas pudessem acessar.

A diferença da média salarial de funcionários em tempo integral por gênero na Austrália, de 12,3%, está abaixo da média da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, de 11,6% em 2020.
 
Ness Gavanzo diz que as mulheres imigrantes que sofrem violência doméstica não são captadas nas estatísticas, o que significa que há uma lacuna em benefícios e serviços oferecidos a essas mulheres, o que pode gerar consequências fatais em alguns casos.
 
"Mesmo as estatísticas que estão sendo captadas no momento que mostram que uma mulher está sendo morta por um parceiro devido à violência doméstica, isso não inclui as mulheres imigrantes que estão com vistos temporários. É muito frustrante porque a Austrália é um país rico que deveria conceder os mesmos serviços para todas as mulheres. Existem os serviços que já estão em vigor, mas por que eles não nos incluem (as mulheres imigrantes)?"
 
"Igualdade de gênero hoje para um amanhã sustentável"
 
Com o tema do Dia Internacional da Mulher em 2022 "Igualdade de gênero hoje para um amanhã sustentável", Ness Gavanzo diz que qualquer chance de progresso significa que todos, em todos os lugares, devem estar unidos.
 
"Irmandade é sobre solidariedade internacional. Não podemos simplesmente dizer que tudo bem, estamos melhor aqui (na Austrália) porque temos esses grandes movimentos de mulheres que vem pressionando por reformas, que têm pressionado por mudanças, e não olhar para nossas irmãs em outras partes do globo."
 





 



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