Kirsty Sword Gusmão: ‘Enchentes em Timor não poderiam ter vindo em pior hora’

Kirsty Sword Gusmao

Source: supplied/FB

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Timor Leste está enfrentando ao mesmo tempo duas crises: o desastre humano e ambiental causado pelas enchentes, e um aumento sem precedentes no número de infectados pela Covid-19. Kirsty Sword Gusmão falou à SBS Portuguese sobre como os timorenses estão tentando se recuperar da pior enchente em 40 anos e os esforços para tratar dos infectados e frear a rápida transmissão do coronavírus no país. Ela também falou do seu trabalho junto à Fundação Alola que completa 20 anos, e a iniciativa Haliku, de apoio às mulheres timorenses com câncer de mama.


Dili, a capital de Timor Leste, uma das nações mais próximas da Austrália, a apenas 700 quilômetros de Darwin, passou o domingo de páscoa, início de abril, praticamente submersa.

Enchentes tomaram conta da capital causando violentos deslizamentos de terra. São 40 mortos e 10 desaparecidos, de acordo com o comunicado da Proteção Civil obtido pela Agência Lusa. Mais de 4 mil pessoas foram desabrigadas. Esses números são revisados diariamente pelas Forças de Defesa. 


Resumo da Notícia

  • As fortes chuvas de 29 de março a 4 de abril causaram inundações e deslizamentos de terra em Timor e Indonésia
  • Só em Timor, mais de 30 mortos, 14 deles em Dili, e milhares de pessoas estão desabrigadas
  • A destruição de infraestruturas críticas, como estradas e pontes, está dificultando o controle da Covid-19, os números de casos aumentaram exponencialmente
  • Kirsty Sword Gusmão, ex-primeira-dama de Timor, e criadora da Alola Foundation, está auxiliando as comunidades devastadas pelas enchentes e afetadas pelo ressurgimento da Covid-19 

Ao mesmo tempo o país da língua portuguesa enfrenta um aumento exponencial no número de casos de infectados por Covid.  São dois mortos e quase 1.100 casos de infectados, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, com o número de casos a aumentar dramaticamente desde o início de março. 

Kirsty Sword Gusmão, a ex-primeira dama de Timor Leste sempre lutou pela causa timorense e estabeleceu a Fundação Alola que está levantanto fundos para auxiliar as comunidades afetadas pelas enchentes e o surto da Covid-19.
Kirsty Sword Gusmao
Kirsty com um dos filhos em Melbourne em 2015 no lancamento do livro Raising a Nation, de Xanana Gusmão Source: AAP Image/Tracey Nearmy
Veja abaixo os principais trechos da entrevista ou clique no link da imagem que abre essa reportagem para ouvir a entrevista completa.

SBS Portuguese – Como está a situação em Timor? Como os timorenses estão enfrentando a Covid ao mesmo tempo que se recuperam das enchentes?

Kirsty Sword Gusmao - Há um alto nível de ansiedade em relação ao aumento vertiginoso dos casos de coronavírus. Timor-Leste teve sorte em 2020 por não ter vivenciado os efeitos devastadores do coronavírus como ocorreu em outras partes do mundo. No entanto, no início deste ano, houve casos de transmissão comunitária. Foram detectados tantos casos que levaram o governo a declarar estado de emergência no mês passado.

As enchentes causaram o fechamento da capital de Dili. Não poderiam ter vindo em um momento pior, no meio do número crescente de casos de infecção por Covid.

Existem atualmente milhares de casos ativos de Covid e há uma grande preocupação de que esse número aumentará ainda mais devido às inundações e o abrandamento compreensível das restrições para permitir que as pessoas se movimentem, limpem e reconstruam após as enchentes.
SBS Portuguese – Eu estou falando com você na semana que deve chegar a Timor o primeiro lote da vacina da Covid, parte da inicitativa internacional  Covax, da Organização Mundial da Saúde. São 24 mil doses, mas as enchentes e os trabalhos de limpeza e recuperação devem atrapalhar a campanha de vacinação em seu momento mais crítico?

KSG – Os profissionais de saúde da linha de frente já receberam a vacina nos últimos dias, inclusive alguns membros do governo. Mas, certamente, torná-la disponível em todo o país para os membros mais vulneráveis ​​das comunidades é um desafio e tudo foi tremendamente comprometido por esta terrível calamidade natural.
SBS Portuguese - Você estabeleceu a Fundação Alola, que tem uma longa história de apoio a Timor. Fale um pouco para gente desse importante trabalho.

Estamos completando 20 anos da Fundação Alola, estabelecida em 2001. Trabalhamos com o empoderamento econômico, saúde infantil e da mãe, e educação. Mas por causa da pandemia eu não posso viajar a Timor para celebrar essa data tão importante com mihas irmãs.

Também promovemos campanhas de conscientização sobre como se proteger do coronavírus e também estamos auxiliando os mais afetados pelas enchentes.
Dr Kirsty Sword Gusmao with her family
Kirsty Sword Gusmão se separou do ex-presidente Xanana Gusmão em 2015, após 15 anos de casamento, eles têm três filhos que moram com Kirsty na Austrália Source: Supplied
SBS Portuguese - Haliku, a sua campanha de conscientização sobre o câncer nas mulheres em Timor, é uma inspiração para mulheres que estão lutando ou que como você lutaram contra o câncer de mama. Como está o trabalho da Haliku, que também pode ter sido prejudicado pela pandemia já que mundialmente os diagnósticos de câncer de mama diminuiram?

KSG - Infelizmente, em Timor-Leste, a maioria das mulheres apresenta os sintomas de câncer de mama em um estágio muito avançado, quando não há muito mais a fazer por elas em termos de salvar suas vidas, o que é uma situação muito trágica e, portanto, alertamos para a importância da detecção precoce e da instrução das mulheres sobre como fazer um autoexame das mamas.
Kirsty Sword Gusmao
Em sua autobiografia a ex-primeira-dama de Timor Leste, descreve seu trabalho como ativista em Jacarta, seu contato com o líder preso do movimento de resistência Xanana Gusmão, o romance e casamento improváveis que se seguiram, os eventos que viram Timor Leste ser libertada da ocupação indonésia e a reconstrução lenta e dolorosa do país. Source: kirstyswordgusmao.org
A relutância em ir a uma unidade de saúde já existe, mas é agravada quando há ansiedade sobre se expor ao risco do coronavírus ao ir ao hospital para fazer um exame rotineiro, ou um mamograma.

Eu fui diagnosticada em 2014, e isso abriu os meus olhos para o que ocorre em Timor, para a situação das mulheres passando por uma experiência semelhante. Eu estava muito ciente de que tive a sorte de ter acesso a atendimento de qualidade na Austrália e esse não é o caso para mulheres timorenses daí a ideia de estabelecer a Haliku. 

É maravilhoso ver que a Alola adotou os programas da Haliku, que é um trabalho importante que estamos fazendo para melhorar o estado de saúde das mulheres, inclusive, você sabe, promover o aleitamento materno. Então é muito fácil para nossos grupos de voluntárias, além de falar sobre o aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida é uma iniciativa que salva vidas, falar sobre a saúde das mamas em geral.

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